31.3.08


foto de Daniel Oliveira em olhares

“Se me obrigassem a dizer porque o amava, sinto que a minha única resposta seria: Porque era ele, porque era eu.”

Michel de Montaigne

24.3.08

o meu olhar

22.3.08





Não queria acreditar que hoje, como tantas outras vezes, percorria aqueles quilómetros que durante anos os haviam separado. Aos poucos a distância encurtara-se até bastar-lhe estender o braço para a encontrar por inteira. Mas os seus receios, manias e complicações faziam-no, mais uma vez, recuar.

Esperara um telefonema nos dois dias anteriores. Conhecia-a. Ela nunca virava costas sem que a conversa fosse terminada. Ela nunca desistia, ela sempre lutava. Por isso, tentara prolongar esta última noite, na ânsia que o silêncio fosse quebrado por aquele som que só a ela pertencia.

Levantou-se de um impulso. E todos os movimentos que se seguiram durante aquele vastíssimo dia foram comandados por impulsos, revoltas, vinganças, raivas. Não existia passado, nem mesmo o dia depois de amanhã. Sempre fora ensinado a viver meramente o presente. E fora este o que ele escolhera para eles nos últimos dois dias. A menos que o telefone tivesse tocado…

Lentamente, rodou a chave e encerrou a porta. Levou com ele a imagem do mundo dela, sem ela, e carregou com ele todo o seu mundo. Fora essa a decisão para esse dia. Um dia há 6 meses atrás.

Porque hoje a noite foi de poesia...

Tentei Fugir

Tentei fugir da mancha mais escura
que existe no teu corpo, e desisti.
Era pior que a morte o que antevi:
era a dor de ficar sem sepultura.

Bebi entre os teus flancos a loucura
de não poder viver longe de ti:
és a sombra da casa onde nasci,
és a noite que à noite me procura.

Só por dentro de ti há corredores
e em quartos interiores o cheiro a fruta
que veste de frescura a escuridão...

Só por dentro de ti rebentam flores.
Só por dentro de ti a noite escuta
o que me sai, sem voz, do coração.

David Mourão Ferreira

19.3.08

Mas ainda me sobra tempo para ligar ao melhor pai do mundo (e a quem ligo quase todos os dias por vontade e hoje porque além da vontade também é suposto fazê-lo) e para ir ver o Expiação, que parece-me que já não vai durar muito mais tempo nos ecrãs dos cinemas e há que pôr a cultura cinéfila em dia, que os tempos de ficar enclausurada em casa a aguentar a programação portuguesa já foram mais desejados, e porque a vida são dois dias e já passaram 20h do primeiro e eu tenciono que o segundo seja vivido em pleno... então toca a arrumar as tralhas, ir pousá-las a casa (sim, não deixo grande parte da minha vida abandonada num estacionamento de um centro comercial qualquer), jantar pensa-se pelo caminho e, finalmente, sentar no escurinho e descansar. Sim, estou exausta.


daqui

Terminou a mini-maratona. Nos últimos 3 dias passei cerca de 36 horas no local de trabalho. Uma média de 12 horas/dia. E ainda ficarei aqui mais uns minutinhos (para terminar o post, é certo). Destas horas, grande parte delas gastas (nunca perdidas, como dizia um Grande Professor que me orgulho de ter tido) a tentar absorver o saber dos outros. E misturam-se o temor do não entendimento, com o desassossego do querer aprender e o regozijo de frutíferas descobertas. Guardo também os momentos de convívio, trocas de experiências, trocas de culturas. A próxima talvez seja só daqui a meio ano. Resta-me agora recuperar o tempo gasto (e nunca perdido!) em alargar conhecimentos e tentar alcançar os objectivos a que me propus para estas 2 semanas. Com o agravante de ver todos à minha volta prepararem-se para uns diazitos de descanso. Poxa, e ainda dizem que a vida de estudante é fácil…

16.3.08

Como se te importasses


de EmparaLeLo

“Um dia deixo de me importar contigo.” – Soubesses tu o significado da palavra importar. Soubesses tu saber cuidar de alguém ou de alguma coisa. Soubesses tu o que é estimar aquilo que temos ou alcançamos. E aí sim, talvez pudesse chegar o dia. Mas, ao invés disso, aquilo que verdadeiramente sentes é a privação. Sentes-te privado daquela companhia que fazia com que não tivesses de te levantar desse teu sofá e procurar a amizade dos outros. Sentes-te privado do aconchego que recebias sem teres de tirar os olhos da tua tv onde realizas a maior parte dos sonhos. Sentes-te privado de poderes acomodar-te a uma vidinha que se vai construindo sem que tenhas de fazer algum esforço. Soubesses tu o que é respeitar alguém, soubesses tu o que é preocuparmo-nos com alguém, soubesses tu o que é amar verdadeiramente alguém e saberias o sentido da palavra importar. E aí sim, hoje poderia ser esse dia.

11.3.08

as luzes de um túnel


foto de Renato Brandão em olhares

Há dias assim. Depois de muito caminharmos, por trilhos que nunca observamos em mapas, receando nunca encontrar a paisagem que procuramos, dias há em que nos parece ver lá ao fundo uma luz. E hoje é um desses dias. Tenho em frente a mim dois túneis que luzem e nem tenho de escolher por qual deva seguir. Posso, simplesmente, caminhar ao longo dos dois. E sigo em frente, cansada, mas a sorrir.

6.3.08

Cansaço de uma noite








Acordei, mais uma vez, exausta. Desde o dia em que tu foste que me roubas todas as minhas noites. E já passaram dias, semanas, meses até. Levanto-me e enfrento mais um dia, sem ti, mas com muito de mim. E desde cedo que desejo que volte novamente a escuridão, para me despir de mim, de todos os meus trabalhos, de todos os meus problemas. E poder fazer tudo o que não fiz na noite anterior. Embrulhar-me, bem quentinha, nos cobertores, saborear o meu silêncio e não pensar. Em nada nem em ninguém. Para, logo em seguida, adormecer. Mas sei que, quando ela finalmente chegar, tu também virás. Irás destapar-me, outra vez, dos meus cobertores. Irás quebrar, novamente, o meu silêncio. Sinto-me desgastada. Perdi-te do dia, para me encontrar contigo de noite. Duma noite que agora quero só minha.

(foto de Nanã Sousa Dias em olhares)

5.3.08

Da teoria à prática


Ora bem: Macaco, presente! Chave de bocas (será este o nome da fulana?), presente! Depois de dissertar sobre para que lado rodar para desapertar a porca (ou parafuso, ou o que o valha; se bem que porca assenta-lhe que nem uma luva, visto ter-me levado para aí uns 30 minutinhos para desengatar) concluí que é sempre (sim, o senhor que foi lá a casa arranjar a caldeira já mo havia dito! aluna despistada, eu!), sempre no sentido contrário aos ponteiros do relógio. Ah, e não esquecer de pôr na lista de compras uma daquelas chaves de bocas (ou o que for) em cruz ou até mesmo a pilhas. 30 minutos depois, algumas risotas de turistas que passavam depois, até mesmo depois de alguns carros de polícia passarem e não pararem com vista àquela multinha por falta de colete (só faltava a aselha vestir algo luminoso para dar ainda mais nas vistas) , eis que aparece um pneu velhinho, mas pronto para as curvas.

O resto é fácil. Ou melhor, na aula teórica que assisti, já lá vão 12 anos, pareceu-me fácil. O macaco subiu o carro cheio de vitalidade, a tampa da jante que esconde os parafusos saltou de um clique. O que já não foi tão fácil de conseguir foi a aselha nº1 desapertar os parafusos para a esquerda (e sempre para a esquerda, nunca mais esquecer) e a aselha nº2 tentar fazer força para a direita com vista a imobilizar a roda. E foi aqui que entrou a inteligência de um macho. Dah, e que tal tentar fazê-lo com o pneu ainda no chão! Obviamente que as toneladas do meu boguinhas têm mais força que a da aselha que me acompanha. Uma gaja não se pode lembrar de tudo! Mais uma distracção que devo ter tido quando assisti à tal aula teórica. Posto isto, o resto correu na perfeição. Principalmente, porque gaja que é gaja não dispensa a tal ajuda masculina ocasional. Não que fosse precisa…

45 minutos depois, o espectáculo nos Aliados termina. E agora sim, já não há pneu que me amedronte!


Bom Português: Sempre pensei que aselha fosse com z, mas o meu pc não concorda!
A quem de direito: Aquela imagenzinha lá de cima claro está que foi roubada. Fui ao Google, escrevi "pneu furado" e ei-la toda catita.