Maria partiu. Para trás deixou família, amigos, amores. Para trás ficaram aventuras, descobertas, alegrias. Mas também as dificuldades, os obstáculos, o irrealizável. Maria foi. Não para tão longe que não pudesse manter os sorrisos, aqueles sorrisos de sempre. Mas Maria quis que o perto fosse suficientemente longe, para que tudo ficasse bem lá atrás, guardado naquele baú que prometemos sempre visitar, mas que, bem no fundo, sabemos que nunca iremos ter vontade de o abrir. Maria levou-lhe o sorriso, as sensações, os projectos. Deixou-lhe a desilusão, o desalento, o desconforto.
Partiu em busca dos sonhos. Dos seus sonhos. Confiante que para isso teria de esquecer todo um passado, toda uma vida. De nada nem ninguém precisaria, de nada nem ninguém sentiria a falta. E, sem olhar para lado algum, seguiu em frente. Convicta que lá ao fundo encontraria a realização de todos eles, os seus sonhos.
Dez anos passados, Maria voltou. Voltou em busca dos sorrisos, e sempre os mesmos sorrisos. Mas os sorrisos que encontrou, ou desencontrou, foram outros. Novas aventuras, novas descobertas, novas alegrias, até novos amores. Onde não havia espaço. Olhava à sua volta e observava os mesmos actores, os mesmos cenários, mas personagens diferentes. E já só restava o papel de figurante.
(foto de Daniel Oliveira em olhares)
2 comentários:
... porque nunca deixam...
(sem sonhos, ainda que mutantes, desviantes, surpreendentes pelos resultados, a vida é uma chatice...)
“Sem sonhos… a vida é uma chatice” – dizes e bem. E talvez alguns até deixem de ser sonhos. Mas poderemos nós viver unicamente de sonhos?
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