“Quantas vezes olhamos para trás e perguntamos se valeu a pena. E quando olhamos para a frente, será que podemos fazer com que valha a pena? “
Não, não foi como um simples fechar de olhos seguido de um acordar e “Voilá, passou-se um ano!” Foram 366 dias (sim, até aqui a natureza foi cruel oferecendo-me um ano bissexto), 8.784 horas, 527.040 minutos ou 31.622.400 segundos. E como eu vivi cada um deles! Foram tardes deitada na cama, foram telefonemas para o meu porto seguro, foram lágrimas. Foi, principalmente, a derrota. Melhor ainda, a desistência. Desistir de algo em que, aparentemente, só eu acreditava. Foi aceitar que havia dado todos os passos, que não havia mais degraus a subir. Foi aceitar que não valho mais do que um -“Chega, não vale mais a pena.”, – “Pronto, está bem!”. Foi ver tirarem-me todas as vestes sem pedirem licença, sem qualquer aviso. E deixar que as tirassem, uma a uma, comigo permanecendo em silêncio. Foi questionar-vos de “porquês” e levar como resposta “Mas isso agora não interessa.”, “Não podes querer alcançar todas as respostas.” Foi aceitar que, uma semana depois, o telefone não tocou, como acontecera durante tantos anos, sempre naquele meu dia. Foi aceitar que não mereço palavras, que não mereço pedidos de desculpa. Nem mesmo despedidas.
Foi ter que viver numa sociedade que teima em não girar à minha volta. E compreender isso, sem queixumes. Foi deixar que fingissem que eu era um pedaço de mundo compacto, de onde nada se havia desconectado. Foi saber compreender o cansaço dos outros. A descrença. Foi aceitar a compaixão em cada palavra não pronunciada. Foi aceitar a ausência.
Foi achar que não existiria mais amanhã. Que tive a minha oportunidade e a deixara voar. Que envelheci. Que as estórias de príncipes encantados a galoparem num cavalo branco não passam de sonhos de criança. Foi ter de ouvir sermões de quem mais adoro. Só porque teimam em fazer-me acreditar que a felicidade ainda é possível. Mas que, para isso, eu tenho de abrir novamente aquela porta que se fechou há 366*24*60*60 segundos atrás.
Foi deixar-te partir. Deixar que, sozinho, compreendesses o quanto é difícil este mundo que nos rodeia. Foi deixar-te realizar os teus sonhos, que nunca conseguirias concretizar enquanto estivesses a meu lado. Foi deixar de exigir-te que crescesses. A vida se encarregará disso muito bem. Foi deixar-te ir e seres feliz!
Foi, com muita calma, deixar que a janela do quarto novamente se abrisse. Foi aprender a ir a correr ver o mar. Foi encontrar todo aquele conforto em certas amizades. Foi corar quando alguém me dizia “Tens tanta gente que gosta de ti.”, “Tens tanta gente que se interessa por ti.” Foi aperceber-me que consigo, sempre que me disponho, a estar rodeada de gente com quem me sinto tão bem. Foi recomeçar a fazer telefonemas. Foi aperceber-me que também os recebo de volta. Foi deixar, aos pouquinhos, de fazer o sorriso hipócrita para dar lugar ao espontâneo. Foi começar a lutar para que o futuro valha a pena.
Foram 366*24*60*60 segundos. E fico-me só pelos segundos, pois consegui viver com a calma suficiente para não sentir nenhuma unidade métrica inferior a esta.
Se valeu a pena? Sim, todos os meus 30 anos valeram a pena. Já lá dizia o nosso Zeca: “Não me arrependo de nada do que fiz. Mais, eu sou aquilo que fiz.”
Foi ter de chorar só mais estas lágrimas. As últimas.
22.9.08
366*24*60*60
Percorrida por 6to100tido às 00:01
Apeadeiros: 6to100tido, me myself and i
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6 comentários:
Porra, que uma gaja não pode entrar só às 11h e vir espreitar o teu blog antes de ir trabalhar. Agora vou ter que ir lavar a cara e disfarçar as lágrimas que também eu verti ao ler o teu post. Espero mesmo que as tuas sejam as últimas e as minhas também! :)
E acreditas que pensei em ti a ler este post? E que te imaginei da forma como te encontras?
Verte as lágrimas que tiveres de verter, durante o tempo que tiver de acontecer. Um dia, quando acordares, vais ver que não haverá mais lágrimas para chorar.
beijo
Estou sem palavras...Só invadida por um misto de tristeza e alegria...
olhos postos,
Obrigada por estares sempre aqui. Mesmo que, por vezes, te faltem as palavras ;)
Hei, há um poeta espanhol que diz:
"Qué importan, cielo puro, las tristezas/
del día, los trabajos ácimos/
si con sólo alzar la vista/
el corazón se encuentra en su palacio."
Olha o céu, os dias, os amigos, a luz do sol, os ratos de conversa...
Ainda fica meia vida que tens que viver intensamente.
Um abraço forte.
oceanomar,
"ratos de conversa"? Que es esto, chiquilla? ;))))
E conto também contigo para uma parte dessa meia vida.
beijo
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