6.6.06

Até naquela praia...


de olhares

Foi já há algum tempo que pisei aquela praia pela primeira vez. A areia era fina e branca. Provavelmente teria sido peneirada durante longos anos. O sol brilhava com grande intensidade. Senti-me bem. Fiquei por ali. Uma década, talvez um pouquito mais. E ali teria ficado para sempre. Bastava que a minha vida fosse feita de sol, areia e mar.

E ali comecei a construir a minha casa. Com grande ambição. Tentei que nada faltasse e que tudo fosse colocado no devido lugar, no tempo certo. E foi vê-la, de dia para dia, a surgir. Nem as paredes, nem o telhado me impediram de ver o sol, de sentir a areia, de ouvir o mar. Quando me pareciam distantes, corria à janela, olhava e sorria.

Já a areia e o mar parece não terem gostado daquela fortaleza. A casa foi rachando pois o solo não era firme. O mar tentava entrar. Primeiro de mansinho, até chegar o Inverno e vê-lo enfurecer-se contra as suas paredes. No início não me entristeci. Era daquela praia que eu gostava, era ali que me sentia feliz, era ali que queria ficar. E, tal como eu roubara um pedacinho à praia, compreendia que ela quisesse um pedacinho de mim. Mas necessitava do meu próprio mundo, que fosse só meu de vez em quando, e para isso ia reparando os estragos que aqueles companheiros iam causando. Sempre com serenidade, pois sabia bem senti-los, ouvi-los.

Até que houve um dia que a casa ruiu. Irreversivelmente. Os tijolos amontoados com tanto cuidado haviam-se desmoronado. E o mar foi levando tudo o que eu sonhara e em que outrora acreditara.

Nesse dia percebi que em todas as praias, por mais bonitas e cativantes que sejam, só se constroem cabanas.

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