22.6.06

Às vezes gostava de ter um amigo. Bastava um único. Para, em alturas como esta, ligar-lhe, corrermos os dois até à Foz e, em silêncio, observarmos o pôr do sol. Sim, de facto é em silêncio que eu me encontro agora. Mas falta-me aquela respiração reconfortante a meu lado. Que me acalma, que me acarinha. Vivo rodeada de gente a quem teimo em etiquetar de amigo. Mas nem todos os rótulos exprimem verdadeiramente o que encontramos dentro do frasco. E vou continuando a procurar, nos longos corredores dos hipermercados...

Quais serão os ingredientes que me rotulam? Será que o bocado de papel que me envolve também engana quem o lê? Terei eu também uma etiqueta que não identifica o meu eu?

Passo muitas vezes pela Foz. Verifico se algum dos que comprou o meu frasco, naquele hipermercado, procura ver o pôr do sol acompanhado. Passo em silêncio. Talvez seja só da minha respiração que necessita.

Hoje, sou eu que corro, sozinha, até à Foz.

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