Era uma vez um país onde entre o mar e a guerra vivia o mais infeliz dos povos à beira-terra. ... Era uma vez um país onde o pão era contado onde quem tinha a raiz tinha o fruto arrecadado onde quem tinha o dinheiro tinha o operário algemado onde suava o ceifeiro que dormia com o gado onde tossia o mineiro em Aljustrel ajustado onde morria primeiro quem nascia desgraçado. ... Ali nas vinhas sobredos vales socalcos searas serras atalhos veredas lezírias e praias claras vivia um povo tão pobre que partia para a guerra para encher quem estava podre de comer a sua terra. Um povo que era levado para Angola nos porões um povo que era tratado como a arma dos patrões um povo que era obrigado a matar por suas mãos sem saber que um bom soldado | nunca fere os seus irmãos. Ora passou-se porém que dentro de um povo escravo alguém que lhe queria bem um dia plantou um cravo. ... Posta a semente do cravo começou a floração do capitão ao soldado do soldado ao capitão. ... Foi então que Abril abriu as portas da claridade e a nossa gente invadiu a sua própria cidade. Disse a primeira palavra na madrugada serena um poeta que cantava o povo é quem mais ordena. ... Foi esta força viril de antes quebrar que torcer que em vinte e cinco de Abril fez Portugal renascer. ... E se esse poder um dia o quiser roubar alguém não fica na burguesia volta à barriga da mãe! Volta à barriga da terra que em boa hora o pariu agora ninguém mais cerra as portas que Abril abriu! |
José Carlos Ary dos Santos
As portas que Abril abriu
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