6.5.08




Vivera sempre naquela margem. E, por sua vontade, ali permaneceria indefinidamente, rodeado por uma natureza que se habituara a ver como sua. Um dia, como que decidido nem sabendo bem a quê, entrou naquele barco velho e de confiança duvidosa e navegou até ao lado de lá. Mas rapidamente percebeu que o sítio onde se encontrou nunca seria mais do que isso mesmo: o lado de lá. E fez, por imediato, o caminho de volta à sua, e para sempre sua, margem.

Acreditava que dali, bem juntinho à beira rio, poderia confortá-la, poderia cuidá-la. -“Vês como é forte a minha voz? E como não há muros em cima do rio que nos impeçam de nos vermos um ao outro? Estarei sempre aqui em alerta.”

Ao princípio ela aceitara toda aquela água a correr entre as suas existências. Mas as suas vontades aumentaram e, com estas, as exigências. Assustou-o. Ele rapidamente desfez a sua tenda e correu, correu, correu… subiu o monte até bem lá acima, de um impulso só. Sem pensar nas consequências da sua abalada. Era cobarde. Nunca conseguiria abraçar novas aventuras. Era ali o seu lugar, onde conhecia todas as pedras do caminho.

Os dias passaram. A vontade de lhe falar aumentava. Como uma criança que tenta uma aproximação, começou a descer a montanha. Sentado na terra, com as mãos agarradas às ervas foi-se arrastando lentamente. Como uma criança foi descendo desinteressadamente, fingindo não olhar o rio.

Hoje, quando olho a outra margem, e sempre a sua margem, ainda o encontro lá sentado. À espera nem sei eu bem de quê. Há muito que ele deixara de a avistar. Voltara novamente àquela borda, mas nunca mais encontrou o local exacto de onde a pode contemplar. E continuo a observá-lo, ali sentado no chão, fazendo desenhos na areia.

2 comentários:

olhos postos disse...

Cuidado com o direito de imagem...aind alevas com um processo em cima!!!

6to100tido disse...

E para que te tenho a ti?
;)