26.3.06

MOCKBA, Я ЛЮБЛЮ ТЕБЯ!


Faz hoje um ano que aqui estive. E fui muito feliz...




Havia passado muito tempo desde o
nosso último encontro. Decidira ir para muito longe, muito longe mesmo. Sempre gostei da aventura. E esta seria A minha aventura. Encontramo-nos a meio desta minha viagem, a meio dos dias e de todos os quilómetros que me separaram de mim mesma. Trouxeste-te a ti, um pouco de mim, a minha língua, o meu cantinho distante. Moscovo foi o meu porto naquela semana.



Vivemos muitas emoções. Foi estranho reconhecer-te, abraçar-te, beijar-te. Para uns minutos depois mergulhar no teu corpo, sempre meu, igual a como o havia deixado, do modo como sempre o imaginara. E partilhei contigo e por uns escassos dias a minha aventura.



Lembro-me de ler em voz alta as placas das ruas enquanto íamos para o centro de autocarro e tu a não acreditares que eu as lia de verdade. E lia, mas quase não as entendia. E de entrarmos pela primeira vez nas esplêndidas estações de metro, O Palácio do Povo, e estacionarmos em frente à placa que nos indicava os sentidos sem sabermos qual o rumo a seguir. Lembro-me de termos em frente a nós o Kremlin e a Praça Vermelha e sentirmos que seria ali o começo de um reencontro dos nossos passados. E de todos os dias voltarmos sempre ao centro da Praça como se houvesse sempre alguma coisa que ficara por admirar. E das ruas que andamos. Estranhas para ti, sem nada de diferente para mim (era só mais uma das que eu percorria todos os dias). E da neve a cair sobre nós enquanto caminhavamos, e do gelo que se acumulava há mais tempo que o dia em que me viras partir. De corrermos todas as estações de metro para olharmos a sua beleza, de fazermos a rota dos edifícios Estalinistas, de regatearmos o preço das matrioshkas (“boneca, bonita e barata”, lembras-te?), de entrarmos em mais uma igreja para ver mais uma imensidão de ícones, …, para depois irmos ao tal restaurante e eu lambuzar-me com aqueles pitéus nos quais nunca lhes reconheceste um sabor agradável. E de, finalmente, já pela noitinha, corrermos para apanhar o autocarro e adormecermos até chegarmos à porta do nosso quarto. E todos aqueles lustres, desde os do Bolshoi, aos do Palácio do Povo, até mesmo os daquele supermercado que descobrimos na Tverskaya, iluminaram aquela partilha de paixão, de descobrimento, de conhecimento, acalmando a angústia da inevitável separação.




No passeio, à porta do meu terminal, dizia-te adeus enquanto o autocarro te levava para longe. Comigo só ficou aquela lágrima que teimou em escorrer. Levaste de volta tudo o que me havias trazido. Eu continuei a ouvir a Rússia cantar.


música: Alexander Alexandrov
letra: Sergey Mikhalkov

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