23.2.06

Cantar Zeca




Acho que, acima de tudo, é preciso agitar, não ficar parado, ter coragem, quer se trate de música ou de política. E nós, neste país, somos tão pouco corajosos que qualquer dia estamos reduzidos à condição de "homenzinhos" e "mulherzinhas". Temos é que ser gente!

Não tenho pretensões ao falar de um homem que não conheci, de uma época que não vivi. Quem quiser conhecê-lo encontra facilmente páginas com a sua história e bloggers com grandes testemunhos. Eu só posso falar do que aprendi a cantar.

Cresci a cantar Zeca. Sabia dizer os seus poemas. Mas só isso. À minha volta cantava-se com outro sentimento, mas eu não me apercebia. Eu, simplesmente, cantava. Aquando da sua morte, na homenagem que lhe fizeram ao transmitir o Concerto no Coliseu, lembro-me das lágrimas a escorrerem na face da minha mãe. Tinha eu 9 anos. Não entendi. Mas, solenemente, continuei a ouvir.

Até que o tempo me trouxe o entendimento. Aprendi a amar Abril. Continuei a cantar, com aquele sentimento que até então me fora desconhecido. Mais tarde, nos meus tempos de estudante, tive oportunidade de o reavivar tocando e cantando com um grupo de amigas a sua música


os índios da meia-praia

E todos nós continuaremos a cantá-lo. Mesmo aqueles que se negam.

Aprendi a cantar Zeca na morte. A minha mãe cantou-o em vida. Por isso hoje, mãe, ouvimos a que escolheste.

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