7.6.06

[noite escura]

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[noite escura]
[noite: s.f. espaco de tempo entre o crepusculo e o amanhecer; obscuridade reinante nesse tempo] [escura: adj. obscura; falta de luz]


Dois meses. Pudesse eu voltar dois meses atrás. Fosse eu capaz disso, fosse eu dono do tempo. Seria a forma de não te saber uma puta, só uma boa menina qualquer de olhos grandes. Porque afinal é isso que pareces e é isso que os outros fazem de ti. Há dois meses tinha um vida calma e um jantar marcado para uma noite de um dia de semana qualquer. Fui um tanso. Porque fiquei logo ao pé de ti, a falar de mim, de olhos bem abertos, de frases soltas, de copo na mão. Tu foste logo atrás, ingénua – pelo menos assim parecias –, querida, bonita… minha. Bem me enganaste. Porque sempre soubeste o que dizias e adivinhaste o que sairia da minha boca. Saiu-me o tiro pela culatra. Acabamos na tua casa e não na minha, contigo a sair do quarto e eu na cama sozinho, perturbado comigo, no que acabara de me transformar: uma extensão de ti, um vazio de mim. Nunca me senti tão nu como ali, mesmo estando já eu meio vestido, despido essencialmente do que deveria estar a sentir: o teu carinho, o meu carinho, o estarmos juntos. Todas essas coisas que mais não eram do que o contrário de nós naquele momento - e como se porventura alguma vez pudesse cometer a ousadia de me referir a nós num só plural. Desde sempre tu e eu.
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Lembro-me daquela conversa de café em que surgiram termos que me eram desconhecidos. E de, em seguida, mergulhar-te em perguntas tentando entender e querer saber mais dessa tua blogosfera. De estranhar o viver-se num mundo virtual, com pessoas virtuais, quem sabe amigos até, onde as palavras fluem e os sentimentos irrompem. E comecei pelo blogue que me indicaste. Li, gostei, até começar a sentir aquela necessidade de o procurar todos os dias. Sim, porque há palavras que não se dizem nas mesas de um café, porque há sensações que só revelamos no nosso mundo virtual, e porque nesse nosso mundo virtual, que é de tantos outros como nós, encontramos o que nós próprios sentimos e nunca soubemos como o manifestar.

E deste blogue fiz uma ponte para tantos outros. Procurei de tudo. Daquela política ou actualidade que não se fala no café, por desinteresse ou ignorância, passando pelo humor, sempre com pitada de inteligência, até aos lençóis da intimidade. Sem nunca deixar de procurar o [noite escura], onde encontrava sempre a familiaridade das palavras. Deixaste morrer essas palavras, ou até, quem sabe, foste revelá-las para outro sítio qualquer, à procura de novos amigos virtuais. Às vezes lá volto à tua morada, que permanece estática. Talvez para sempre, quem sabe...

Mas porque há registos que têm de ser feitos. E porque gostei, quis procurar mais, até entrar nesse mundo, de tantos outros, mas muito meu...

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