22.3.08





Não queria acreditar que hoje, como tantas outras vezes, percorria aqueles quilómetros que durante anos os haviam separado. Aos poucos a distância encurtara-se até bastar-lhe estender o braço para a encontrar por inteira. Mas os seus receios, manias e complicações faziam-no, mais uma vez, recuar.

Esperara um telefonema nos dois dias anteriores. Conhecia-a. Ela nunca virava costas sem que a conversa fosse terminada. Ela nunca desistia, ela sempre lutava. Por isso, tentara prolongar esta última noite, na ânsia que o silêncio fosse quebrado por aquele som que só a ela pertencia.

Levantou-se de um impulso. E todos os movimentos que se seguiram durante aquele vastíssimo dia foram comandados por impulsos, revoltas, vinganças, raivas. Não existia passado, nem mesmo o dia depois de amanhã. Sempre fora ensinado a viver meramente o presente. E fora este o que ele escolhera para eles nos últimos dois dias. A menos que o telefone tivesse tocado…

Lentamente, rodou a chave e encerrou a porta. Levou com ele a imagem do mundo dela, sem ela, e carregou com ele todo o seu mundo. Fora essa a decisão para esse dia. Um dia há 6 meses atrás.

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