15.9.08




Lembras-te de todas as noites em que eu chorava? É claro que lembras. Há coisas que uma mãe nunca esquece. Para mim isso nunca foi uma lembrança. Nem mesmo agora, depois de tanto reflectir, não entendo porque o fazia. Talvez simplesmente por querer que estivesses a meu lado. Sempre. Provavelmente lembrar-te-às de todas as outras coisas que eu também recordo. Das vezes em que ficava doente e me sentia imensamente feliz por faltar às aulas para ficar todo o dia deitada no sofá com a televisão em frente e os teus cuidados por todo o lado. Ou de quando, nas vésperas dos testes, te pedia para me fazeres perguntas. Houve um dia em que me disseste que agora eu teria de aprender a fazê-lo sozinha. E eu aceitei de imediato. As tuas palavras sempre me pareceram tão acertadas! Até mesmo aquando daquele dia. Lembras-te? É claro que sim. São coisas que mãe e filha nunca esquecem. Mesmo quando o fingem não mais lembrar. Lembro-me de quando acordei dos meus fantasmas e desatei a chorar: “Eu estou bem, mãe. Desculpa-me.” E do dia em que saí da tua casa, da nossa casa. Tenho a fotografia aqui dentro gravada.

Agora já estou crescidinha. De há uns anos para cá deixei de chorar só para que viesses ali para o meu lado. Até deixei de ficar doente, pois o sofá e a televisão sem ti ao redor deixaram de ser apetecíveis. E comecei também a dar-te conselhos. E tu a ouvi-los e a parecerem-te tão acertados!

Hoje mãe, também tu irás acordar desses teus fantasmas. E eu estarei bem juntinho a ti para ouvir-te dizer: “Estou bem, filhota.” Para que continuemos juntas a arquitectar mais estórias para recordar
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